R$2M faturados com apenas 22 anos
História de uma ideia pioneira, um crescimento acelerado e uma parada forçada quando se está no auge.
No. 21 — Setembro, 2024.
O começo
Matheus Nager é empreendedor, fundou duas empresas e a primeira é o case desta edição. A Bom Cupom transformou notas fiscais em plataforma de publicidade e, do seu auge, com um faturamento de R$2M, encarou uma mudança forçada de rota por conta da pandemia. Os aprendizados você acompanha agora. Boa leitura!
O empreendedor Matheus Nager. Foto: acervo pessoal.
Quando tudo era verdade
Niterói, 2019.
O ano da loucura e da expansão vertiginosa deixou os quatro sócios da Bom Cupom eufóricos.
Em menos de dois anos de operação, e sem um centavo de investimento externo, o negócio alcançava impressionantes 150 franquias e R$ 2 milhões em faturamento.
Lembro que nem dormia; queria viver essa euforia minuto a minuto.”
O negócio inovava num espacinho que passa - ou melhor, passava - despercebido por quase todo mundo.
Se antes as notas fiscais das compras do supermercado eram automaticamente amassadas e descartadas; agora os clientes tinham no verso um novo interesse. Lá estavam diversas oportunidades.
De ignorado, agora o o papel servia como uma plataforma de mídia até então inédita no país; repleto de cupons de desconto em estabelecimentos locais - restaurantes, lojas e academias.
“Por que não pensei nisso antes?”, era uma pergunta que Matheus ouvia frequentemente. Uma ideia simples, mas que explodiu em popularidade.
Se 2019 foi o ano de atingir patamares inimagináveis, o plano para o seguinte era desacelerar e organizar a casa.
Avançando dezoito meses: a Bom Cupom encerrava suas operações, fortemente impactada pela pandemia e as drásticas mudanças do comércio físico.
Quais as tentativas para recuperar o mesmo patamar do auge? E as difíceis decisões de que caminho seguir?
Os bastidores dessa jornada você acompanha a seguir.
Uma oportunidade surge de quem vai lá e faz
Matheus nasceu nos Estados Unidos, em uma família que sempre priorizou a educação. Seus pais, formados em universidades de prestígio, esperavam do filho seguir um caminho semelhante. Assim, cursou Engenharia de Produção na UF, mas logo se desiludiu.
A cada semestre, a expectativa de transformar suas ideias em realidade parecia mais distante. Matheus aprendia coisas complexas, mas que pouco se aplicavam ao que realmente queria construir.
“Foi aí que a faísca para negócios acendeu. Eu queria criar, fazer acontecer.”
Aos 19 anos, encontrou inspiração em uma empresa americana de cupons e viu uma oportunidade. Afinal, quem não quer pagar menos?
Tudo começou despretensiosamente. Matheus pegou uma bobina de cupom fiscal na farmácia do primo, vendeu a ideia para alguns estabelecimentos do bairro e um amigo da faculdade desenhou a arte com os descontos.
Imprimiu, colou uma folha na outra e provou para o mundo ser possível validar uma ideia de forma rápida e barata.
A primeira tiragem contou com 12 anunciantes, mas nem tudo saiu como esperado. O primeiro grande cliente desapareceu, o trabalho de meses voltou à estaca zero, o amigo que era sócio da empreitada desistiu para focar nos estudos.
Matheus se viu sozinho, aprendendo que a ação que tanto queria dava uma trabalheira danada.
Mas quem disse que isso era ruim?
Formatando uma boa ideia
Em setembro de 2017, seis meses depois da primeira tentativa, a Bom Cupom estreava com sete mercados no bairro de Icaraí, em Niterói.
O fator novidade trouxe visibilidade imediata, e a operação logo se expandiu para outros cinco bairros. O modelo de negócio? Simples e eficiente.
O supermercado apenas adquiria as bobinas, enquanto os comércios locais compravam espaços para seus anúncios. Por R$ 400* ao mês, um estabelecimento podia ter 40.000 cupons distribuídos.
Com até 15 empresas diferentes anunciando, uma única tiragem gerava, em média, R$ 5.000/mês. Atrelado diretamente a vendas, o resultado dependia de um comercial forte por trás.
O ano de 2018 fechou com um faturamento de R$ 180 mil.
O que o seguinte traria, ninguém teria imaginado.
A escalada das franquias
Com a demanda crescendo rapidamente, impulsionada por mídia orgânica e boca a boca dos clientes e parceiros, a Bom Cupom entrou em uma ascendente.
O forte market fit indicava um negócio sólido: baixo custo operacional, ausência de concorrência, e uma facilidade de expansão impressionante. Percebendo o potencial, o time buscou uma consultoria no Rio para formatar um modelo de microfranquia.
Em três meses, a estrutura estava pronta: análise de viabilidade, manual de operações e burocracia organizada. As taxas de franquia variavam entre R$ 8 mil e R$ 25 mil, mais royalties mensais. Os franqueados tinham exclusividade territorial, seguindo um processo claro: fechar parcerias com supermercados e, em seguida, atrair anunciantes locais.
Havia um cenário dos sonhos que pouca gente experimenta ‘na vida real’: mais gente querendo comprar do que Matheus batia na porta para vender. Nos meses seguintes, bateram rapidamente 150 franquias, em diversas regiões do país.
“Eu tinha dificuldade em dizer não.
Como eu iria negar 10, 15 novos franqueados por mês?”
O time, que começou o ano com 4 sócios, 1 designer e 1 vendedor, agora tinha 25 pessoas.
Em sua primeira experiência como empreendedor e em menos de dois anos de operação, Matheus liderava um negócio que ia faturar R$ 2 milhões.
Tinha apenas 22 anos.
Os sócios com os cupons. Foto: acervo pessoal.
Parando no meio do caminho
“Ficamos quase dois anos tentando fazer o negócio voltar”
2020 começou com a intenção de frear o crescimento e estabilizar a operação; focando em construir uma base sólida para o futuro.
Matheus e a equipe sabiam que precisavam desacelerar. O primeiro ano inteiro da Bom Cupom como franqueadora trouxe desafios inesperados: muitas das novas franquias não conseguiam obter os mesmos resultados da matriz.
Precisavam evoluir o processos de onboarding, melhorar treinamentos comerciais e focar no relacionamento com os parceiros.
Mas, pouco tempo depois, os problemas eram de outra ordem e a pandemia tornou qualquer decisão incerta e de alto risco.
O novo escritório no Rio de Janeiro, projetado para abrigar 80 colaboradores, foi usado por apenas dois meses e, enquanto devolvia as chaves, Matheus pensava como sobreviver aos próximos.
As vendas pararam e a Bom Cupom pausou também os royalties que recebia dos franqueados. Buscaram financiamentos para segurar o time, enquanto viam o caixa evaporar.
Os 23 anos de Matheus foram mais angustiantes que o sonhado. Precisou demitir o time, encarar conversas difíceis e navegar por disputas legais.
“Foi muito duro.
O pior foi sentir estar decepcionando tanta gente que acreditou no negócio. Precisei lidar com frustrações de pessoas muito próximas.
Sem contar que também fiquei muito endividado.”
Tempo de espera.
Pausaram o negócio na esperança de uma normalidade pós-pandemia, enquanto corriam para descobrir novas fontes de receita.
Matheus precisou equilibrar a frustração de ver todo o potencial da Bom Cupom congelado no passado com o fato que estava endividado pelos próximos anos.
Houveram novas tentativas de recolocar a Bom Cupom nos trilhos e uma delas foi um tanto inusitada. No passado, uma pessoa interessada em franquear trocou a assinatura do contrato por simplesmente copiar o negócio em sua região. Agora, batiam na porta para entender como poderiam ser parceiros e esta pessoa tornou-se CEO por um período.
Mas o contexto já era muito diferente e o dinheiro que entrava era insatisfatório. Muitos franqueados também estavam em outro foco, desengajados. Este novo cenário parecia irreversível.
Mesmo assim o processo de encerrar a Bom Cupom não foi abrupto. Dilui-se ao longo de meses, em que a incerteza da pandemia também segurava uma decisão final.
Quando criou uma tese que foi pivotada para o que é hoje seu novo negócio, Matheus optou por seguir em frente e fechar a empresa. Precisava colocar energia em construir esta nova oportunidade.
Era hora de recomeçar.
Os aprendizados
O que você fez igual ao começar seu novo negócio?
Profundo envolvimento no dia a dia do negócio, enquanto fundador. Isso faz uma enorme diferença na compreensão das dores e problemas enfrentados pelos clientes e como a empresa formata processos para resolvê-los. Estar presente garante maior profundidade de conhecimento na tomada de decisão.
O que fez diferente?
Estudar métricas de retenção e usar esses indicadores como um termômetro para garantir que o valor entregue aos clientes seja realmente satisfatório.
5 Erros ou conselhos
que daria para você hoje ou para quem quer cometer outras falhas; não as que estão nesta edição:
Venda o case de sucesso do seu franqueado, não o seu próprio. Nem todos conseguiram replicar o faturamento do projeto-piloto. Teria sido mais eficaz mapear os sucessos e desafios dos primeiros franqueados; mitigando problemas futuros.
A insatisfação de um cliente não desaparece sozinha. É crucial garantir a retenção e a satisfação; caso contrário, as dores de cabeça também escalam.
Dinheiro externo só se precisar. Matheus chegou a negociar com investidores, mas percebeu que não precisava de capital externo naquele momento. Evitou diluir a empresa sem necessidade e não adicionou complexidade onde não precisava.
Negócios são cíclicos, imprevisíveis e as alianças podem mudar. Um franqueado em potencial copiou o modelo de negócio. De um parceiro, tornou-se concorrência… e virou CEO da empresa um tempo depois.
Empreender é encarar conversas difíceis. Prepare-se para ter diálogos carregados de frustrações e emoções profundas. Nem sempre pode-se optar por não tê-los.
O depois
“Fechar é pesado pra quem fez do negócio sua prioridade, dedicando tempo e energia. Mas quem passa extrai coisas de alto valor”
Hoje Mateus é CEO da Kuppi, startup que surgiu da busca por uma nova fonte de renda durante o limbo em que a empresa anterior enfrentou durante a pandemia.
Na busca por uma nova ideia, olharam para as conexões que já haviam estabelecido e, como tinham muitos parceiros no setor de restaurantes, começaram a resolver algumas de suas maiores dores.
A Kuppi é um gerente virtual de delivery que utiliza o WhatsApp como canal principal, conectando clientes e restaurantes Se posiciona como uma alternativa ao iFood e os valores são menos proibitivos: a taxa de transação, por exemplo, é zero.
A credibilidade construída em sua primeira tentativa de empreender facilitou a formatação desta nova empreitada; incluíndo captar recursos com investidores que conheceu no passado.
“Precisei entender que quebrar pode ser um passo fundamental para chegar mais longe.”
Até hoje ainda lida com burocracias legais da Bom Cupom e em breve lança um novo projeto pessoal, com provocações sobre o que o mercado de trabalho anda exigindo de profissionais versus as competências aprendidas em uma universidade. Para acompanhar os conteúdos, siga Matheus no Linkedin.
Obrigada pela generosidade em contar sua história e inspirar outros (as) empreendedores (as).
Tem muita vida após o ‘não chegar lá’, o problema é o processo. Espero que esta edição tenha inspirado um pouco.
Até a próxima história!
(Sigo em busca de novos casos para contar. Me indiquem, principalmente negócios de mulheres e/ou startups de base tecnológica! :) )
Nati.
Leia a edição #20 aqui.
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🔗 O que andei lendo e que pode inspirar você e seu negócio:
Modo fundador, só se falou disso no Vale do Silício. Basicamente ou você está ativo no negócio, ou é só um gestor que vai perder $ no longo prazo. (em inglês) 💸
Ainda no tema: Na jornada da empresa, a paixão do founder faz a diferença. Conversa com um cientista da computação que deixou a IBM para colocar o Sri Lanka no mapa global da TI. 🖥️
A arte de liderar seus colegas de time. Matéria sensacional com diversas estratégias utilizadas por Tom Brady ao longo de sua carreira. (em inglês) 🏈
Qual seu dinheiro mais mal gasto no digital? Reflexões, opiniões e indignações a partir de quem gastou R$18.000 em uma mentoria bastante rasa. 🫠
Um ode à despreocupação, porque nem tudo precisa ser um sucesso, na news do
. ☀️
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→ Esta história foi 90% escrita por inteligência real, não artificial. :)
* Base da precificação foi de uma empresa que vendia publicidade em saco de pão; o modelo de negócio mais parecido que puderam se basear.