De empreendedora solo à (também) sócia
Encontrar clareza nem sempre é sobre começar algo novo - às vezes, é preencher os espaços que estejam esperando por você.
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Tempo de leitura: 13 minutos
No. 33 — Maio, 2025.
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Nesta edição:
• Processo de empreender solo - e por que autoconhecimento é fundamental.
• O que funcionou (ou não) para a empreendedora.
• Como ajustar a rota e o próprio ritmo diante de mudanças e desafios pessoais.
• 5 erros ou conselhos para empreender solo (e manter a sanidade).
• Como usar IA de forma prática para resolver problemas do dia a dia, (somente no vídeo/áudio).
• E claro, pra quem já é de casa: reflexões pra pensar na vida e nos negócios enquanto lê. 🚀
O começo
Andressa Siegel é Head de Produto e Design na Kompra.app, autora do livro Crie, Reinvente, Empreenda e fundadora da Reinventa, mentoria especializada em vendas para mulheres. Sua história é contada direto de Curitiba/PR.
Empreender raramente começa com clareza.
Pode começar no meio do caos, de uma dúvida que atravessa os dias ou daquela vontade silenciosa de encontrar um novo caminho… mesmo que o mapa esteja meio borrado e o destino seja uma incógnita.
Foi assim com Andressa.
Depois de anos trabalhando em startups como designer de produto, a vida virou de repente em 2023: demissão em massa, incertezas, medos.
No meio dessa bagunça, um post de um mentor no Linkedin oferecia um espaço de troca. Na dúvida, respondeu e encontrou aí, sem grandes planos nem garantias, o início da sua virada:
“Ouvi que a vida profissional é como um álbum de figurinhas: é preciso entender o que já foi preenchido e, principalmente, que espaços ainda estavam em branco esperando serem ocupados.”
Ficou claro o que faltava: empreender.
A designer, empreendedora e escritora Andressa Siegel, autora do livro Crie, Reinvente, Empreenda.
Como se decide empreendedor solo?
Movida pela clareza do que queria, Andressa começou a pensar no “como”.
Considerou ter sócios, mas algo dizia que este não era o caminho - ou pelo menos, não a hora. A lembrança das reuniões intermináveis, da complexidade e dores do passado apontava para outra direção. Queria outra coisa.
Inquieta, levou a dúvida para a terapia e ouviu a pergunta que ecoou por muito tempo:
"Por que você precisa de mais pessoas para empreender?"
Quase nunca existe um único jeito para as coisas - nem na vida, nem nos negócios. E a resposta estava lá: ela não precisava.
Talvez seja isso que empreender ensina de forma rápida e profunda: você é capaz de tomar todas as decisões.
Só que às vezes vai faltar coragem.
Ou a permissão que você mesma precisa se dar.
Com o primeiro veredito, era hora de avançar.
Como nasceu a Reinventa
A clareza no “quê” fazer veio aos poucos, conectando pontos: quem seriam as clientes ideais? Como se desenharia o modelo de negócio? Quais as ofertas?
Andressa escolheu atuar com mulheres autônomas que enfrentavam uma dificuldade em comum: conciliar marketing e vendas. O objetivo era ajudá-las a encontrar clareza, aumentar a confiança e fortalecer o próprio posicionamento.
Começou do zero, tendo o Instagram como principal plataforma de divulgação e aquisição de clientes.
Não contou para amigos, nem família porque quis tatear o mercado sozinha. Produziu conteúdo, conversou com potenciais clientes, fez entrevistas, testou preços, formatos de pagamento e modelos de oferta.
A Reinventa nasceu assim - na prática, com consistência e muita escuta ativa. No início, oferecia infoprodutos; mas logo entendeu que era preicso pivotar…
Tentativas, ajustes e o que realmente trouxe retorno
Embora o B2C brilhasse mais aos olhos, o dinheiro estava no B2B.
Para cliente final, testou diversos formatos de infoprodutos, como ebooks e aulas gravadas. Mas o formato pedia uma presença constante, produção de conteúdo intensa e um funil de vendas bem azeitado para gerar um retorno consistente.
Para Andressa, os resultados não compensavam a trabalheira toda.
Com o tempo, foi refinando o nicho e concentrando energia no que mais trazia retorno, o B2B. Nessa fase que o Instagram ganhou ainda mais força e a criação de conteúdo virou o motor para gerar novas conexões, conversas e vendas.
Um dos momentos que confirmou este poder foi quando uma cliente chegou através de um post antigo, publicado em 2017 - muito antes de Andressa sequer pensar em empreender. A partir daquele texto, nasceu um workshop que depois se transformou em um produto estruturado.
A constância foi a chave para tração. Mas ela só conseguiu chegar lá depois de exercitar algo essencial: abrir mão do medo do julgamento.
É fácil paralisar diante da exposição, questionando se está bom o suficiente ou se as coisas fazem sentido. Mas, no fim, como Andressa aprendeu:
"Superar o medo do julgamento é a principal batalha e muitas vezes ele está só na sua cabeça."
Foi assim que, testando, ajustando e ouvindo o mercado, encontrou o que realmente trazia retorno: mentorias personalizadas e workshops que conectavam prática e estratégia, tendo empresas como principal público-alvo.
Os desafios de empreender solo
Em 2023, Andressa validou a Reinventa. Conquistou tração e entendeu cada vez mais as dores e motivações dos clientes.
O plano era escalar em 2024: investir em tráfego pago, delegar tarefas, montar uma pequena equipe.
Aí, a vida real bate na porta e questões pessoais impactaram diretamente sua estratégia.
Com a sobrecarga emocional e financeira, começou a perder a constância na produção de conteúdo e isso afetou o crescimento da empresa como um todo.
"É muito difícil dividir pessoal e profissional quando você é uma empreendedora solo.
Se a dona não está bem, a empresa não anda."
Ao olhar com mais clareza para os números, percebeu que o caixa não teria fôlego para muitos meses. Um dos maiores aprendizados foi esse: misturar o dinheiro da empresa com a conta pessoal virou um risco real - e um pesadelo operacional.
Andressa percebeu que, embora aplicasse frameworks de produto e gestão em outras empresas, ainda não trazia essa disciplina para o próprio negócio.
Outros aprendizados dessa fase:
A falta de projeções financeiras claras como burn rate, metas, indicadores trouxe cegueira do todo.
Delegar para avançar exige estratégia: é preciso saber o que, quando e para quem.
Contratar quem execute com autonomia faz toda a diferença.
Precisando aumentar o caixa, planejou pivotar novamente. Encontrar um sócio era um caminho. Voltar para a CLT, outro.
Mas sabia que não queria apenas uma coisa só.
Era hora de ajustar a rota…Só faltava descobrir qual seria o próximo passo.
Trecho do livro Crie, Reinvente, Empreenda. Imagem: acervo pessoal
Antes, um livro como legado
Em meio à nova fase de transição, Andressa sentiu que precisava colocar em palavras o que vinha atravessando.
Queria escrever sobre o momento que estava vivendo de forma mais estruturada - seus medos, descobertas, desafios e os tropeços de empreender sozinha. Queria oferecer esse caminho para outras mulheres que, como ela, estavam construindo seus próprios negócios.
Mais do que um manual, queria trazer uma visão real: o que significa ser mulher, jovem, designer e empreendedora solo no Brasil?
O resultado foi o livro Crie, Reinvente, Empreenda, publicado pela Editora Brauer, com prefácio de Joca Torres (ex-CPO do Gympass) e posfácio de Isa Bonfitto (fundadora da
)."Escrevi o livro que gostaria de ter lido quando comecei a empreender."
Voltado especialmente para mulheres criativas e empreendedoras, o livro reúne reflexões práticas sobre:
• Como alinhar propósito pessoal e posicionamento de marca
• Como estruturar um negócio autêntico e sustentável
• Como vender seu conhecimento sem perder a essência
• Como construir ofertas, funis e experiências focadas em conexão e valor
Imagem do livro Crie, Reinvente, Empreenda. Foto: acervo pessoal.
Novo capítulo: convite para ser sócia e a descoberta da gravidez
Enquanto ainda ponderava sobre o próximo passo - encontrar um sócio para ganhar mais braço ou talvez voltar para a CLT - veio o estalo. Existia aí uma terceira via.
(Se você não acredita em destino, talvez este seja um bom motivo para reconsiderar.)
No passado, Andressa fez um freela curto como Product Designer em uma startup. Foram algumas semanas, o suficiente para perceber o fit com o time e o produto.
Eis que então pensou em uma proposta e ia escrever para o CEO. Antes que o fizesse, o próprio apareceu: queria marcar uma reunião. Sem rodeios, ela disparou o que estava na sua cabeça:
"O que preciso fazer para ser sócia de vocês?"
E era exatamente o convite que o CEO estava pronto para fazer.
A virada foi dupla, naquelas boas surpresas da vida:
No mesmo dia em que fechou o acordo para assumir como Head de Produto e Design - agora como sócia - Andressa descobriu que estava grávida.
Só mulheres vão entender de fato o turbilhão: medo, expectativa, julgamento, incertezas sobre como o mercado vai reagir.
Felizmente, a notícia foi bem recebida. Se influenciava a decisão, era para melhor.
Andressa, enfim, está na página certa: a Reinventa segue, agora em um ritmo mais leve, o livro acabou de ser publicado e os novos desafios como sócia da Kompra.app estão apenas começando.
É, queridas leitoras: ajustar a rota profissional sendo mulher, empreendedora e mãe pode sim ter um final feliz.
Para quem está pensando em adaptar a rota
Pivotar sua carreira exige coragem e estratégia. Um valioso conselho de Andressa é: não aposte tudo em um único lugar.
Profissionais que atuam em mais de uma frente aumentas as garantias e não depender exclusivamente de um canal, empresa ou fonte de receita é uma habilidade cada vez mais essencial.
Não quer dizer que é fácil, mas deve ser considerado como uma estratégia de longo prazo.
Em um mundo VUCA* - volátil, incerto, complexo e ambíguo - como se preparar?
• Estudar as habilidades do futuro.
• Estar em constante aprendizado.
• Pensar na experiência do cliente como prioridade.
• Fortalecer soft skills: adaptabilidade, colaboração, comunicação.
• Experimentar. Testar. Recalcular.
Ninguém tem todas as respostas de primeira e, costurando com o início do texto, talvez o primeiro passo seja esse: olhar com honestidade para o próprio álbum de figurinhas e decidir qual espaço ainda falta preencher.
Obrigada pela generosidade e conversa inspiradora!
Conecte-se com Andressa aqui:
Livro Crie, Reinvente, Empreenda (Editora Brauer)
5 Erros ou conselhos
para empreender solo (e manter a sanidade):
Empreender solo é também um processo de autoconhecimento.
Antes de definir sua oferta, defina o que você realmente quer construir – e o que não está disposta a repetir das experiências anteriores.A constância vence o medo do julgamento.
Produzir conteúdo e vender seus serviços exige enfrentar a própria insegurança. Superar o medo de errar ou ser julgado é o maior desbloqueio para crescer.Seu cliente ideal é mais importante que a quantidade de seguidores.
Construir um negócio sólido exige conversar com quem de fato precisa da sua solução, mesmo que isso signifique ignorar métricas de vaidade no início.Misturar vida pessoal e caixa da empresa traz muitos pontos cegos.
Não subestime a importância de um olhar financeiro disciplinado desde o início e avalie desde o primeiro mês quantos meses de fôlego seu caixa cobre.A rota pode mudar – e isso não invalida sua história.
Aceitar novos ciclos profissionais não é abrir mão do empreendedorismo, mas ampliar seus caminhos e ressignificar seus aprendizados.
🔥 Prompt: Diagnóstico de Expansão Pessoal e Profissional
Você é especialista em desenvolvimento de carreira e transições estratégicas de trajetória. Sua missão é ajudar a identificar os espaços ainda em aberto no "álbum de figurinhas" da vida profissional de [seu nome] e propor caminhos para preenchê-los com clareza e propósito, com base nas respostas que fornecerei a seguir.
Aqui estão as informações necessárias:
Breve descrição da sua trajetória atual:
[Descreva em poucas linhas onde você está hoje na carreira - função, área de atuação, principais conquistas e características que definem seu momento atual.]Quais realizações ou etapas você já preencheu até aqui?
[Liste marcos importantes, habilidades conquistadas, projetos realizados, mudanças de rota já feitas.]Quais espaços você sente que ainda estão em branco?
[Descreva sonhos, projetos, habilidades ou experiências que você ainda não viveu, mas que gostaria de alcançar.]O que hoje impede ou adia o preenchimento desses espaços?
[Liste bloqueios, crenças limitantes, falta de recursos, medo de julgamento ou qualquer outra barreira.]Que tipo de movimento (pequeno ou grande) poderia começar a mudar essa história agora?
[Pense em ações que dependam mais de você do que de fatores externos.Com base nessas respostas, realize o seguinte diagnóstico:
a) Liste os 3 principais espaços que merecem atenção e ação prioritária.
b) Sugira 3 micro-ações práticas e imediatas para avançar no preenchimento desses espaços.
c) Defina 1 indicador pessoal para medir, semanalmente, se você está se aproximando dos seus objetivos.
d) Crie 5 perguntas poderosas que você pode se fazer toda semana para manter o foco na trajetória que deseja construir.
🔈 Neste episódio, cobrimos:
0:58 - Apresentação
3:23 - Conselho sobre o "álbum de figurinhas" que redefiniu o caminho
6:00 - Autoconhecimento parta empreender solo
8:38 - Como ter clareza no “quê" fazer?
9:39 - O que foi a Reinventa e principais conquistas
14:10 - Importância de criar conteúdo como canal de aquisição
17:30 - Infoprodutos e seus desafios
19:00 - O lado financeiro: o que mais trouxe retorno?
21:00 - Maiores dificuldade e aprendizados na jornada solo
25:00 - Ajuste de rota e escrita do livro Crie, Reinvente, Empreenda
30:05 - Convite a ser sócia e notícia da gravidez
39:17 - Usando e aplicando IA no dia a dia
45:12 - Conselhos para transição de carreira
Referências:
Livro O Caminho do Artista
Post Elena Verna sobre diversificar sua profissão
Obrigada por chegar até aqui e acompanhar a Failwise, um projeto que me dá orgulho em escrever.
→ Sigo em busca de novos casos para contar. Me indiquem, principalmente startups de base tecnológica! :)
Até a próxima,
Nati.
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🔗 O que andei lendo e que pode inspirar você e seu negócio:
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* VUCA é um acrônimo baseado nas teorias de liderança de Warren Bennis e Burt Nanus (criado nos anos 1980) para descrever - ou refletir sobre - as condições e situações caracterizadas por:
Volatilidade: mudanças rápidas e imprevisíveis.
Incerteza: falta de previsibilidade e dificuldade de antecipar eventos.
Complexidade: muitos fatores interconectados, difíceis de entender como um todo.
Ambiguidade: falta de clareza sobre o significado dos eventos, múltiplas interpretações possíveis.
O termo é usado para explicar ambientes em que a velocidade das mudanças, a imprevisibilidade, a quantidade de variáveis e a dificuldade de interpretar cenários tornam a tomada de decisão mais desafiadora.
Obrigado pela citação :)
Como uma mãe de uma bebê de 7 meses e em transição de carreira do mundo corporativo pra solopreuneur há 2 anos, essa entrevista caiu como uma luva.. preciso produtizar melhor meus serviços e tirei bons insights desse texto. E vou usar o prompt nos próximos dias. Obrigada, Nati!