Quando uma agência de propaganda para em seu auge
História de uma empreendedora que mudou de rota uma única vez, ao fechar o negócio.
No. 11 — Abril, 2024.
O começo
Camila S. é executiva de vendas e liderou uma agência de publicidade e propaganda por uma década. Começou quase que ao acaso, quando descobriu a enorme barreira de entrada das grandes agências paulistanas. Nesta edição, a decisão de parar no meio do caminho - que não por acaso, era seu auge. Boa leitura!
A publicitária virou empreendedora ao realizar que as portas das grandes agências só abriam para um seleto grupo. Imagem: acervo pessoal.
Quando era tudo verdade
São Paulo, Vila Olímpia, 2018.
Quando um tradicional colégio contrata sua agência de publicidade para uma grande campanha, a resposta que você recebe é que está no caminho certo.
Se você atua em São Paulo e o cliente fica em Brasília, é ainda mais animador. O mercado aponta um espaço a ocupar. E você, crescer e faturar.
A oportunidade chegava na sequência de uma grande vitória.
Camila tinha acabado de liderar um projeto dos sonhos de qualquer criativo. Sua agência de quase uma década atingia um novo patamar. A campanha posicionava uma nova linha de beleza infantil. Branding, storytelling, nome dos produtos que também viraram personagens, suas personalidade, tom de voz, discursos de venda.
O engajamento era enorme. Tanto do público final quanto dentro do fabricante.
“ O dono da empresa chegou a fazer bichinhos de pelúcia com os personagens e me presenteou.
Eu fiquei alucinada. Achei tudo aquilo muito maravilhoso. Estava no auge”.
Além de tudo, gerou uma receita considerável.
Para quem criou o negócio de uma forma um tanto casual, descobrir que dava para competir em esferas mais elevadas era tão empolgante quanto um tanto surpreendente.
O que parecia impossível era, sim, alcançável.
Só que aí um erro aconteceu. Nada gravíssimo ou incorrigível. Mas o suficiente para mudar o curso das coisas.
“Eu simplesmente desliguei e encerrei tudo. Parece que fui tirada da tomada.”
A euforia de atuar em novas e expansíveis frentes acabou em portas fechadas.
O que levou a esta decisão?
Como resolver a intransponível barreira de entrada das renomadas agências
Quando se formou em publicidade e tentou entrar nas empresas referência do mercado, Camila foi pega de surpresa.
Desconhecia a invisível realidade de que ou existe uma boa indicação ou sua faculdade é das seletas e caras. “Talvez eu tenha dado azar”, pensou na época, sem nunca nem cogitar empreender.
Começou por acaso. Uma amiga pediu um plano de marketing e… quando viu, passarem-se anos, inúmeros clientes, um escritório que saiu de casa para Alphaville e de lá, para a Vila Olímpia.
Foi crescendo, gerenciando pessoas, demandas, fluxos com mais números do que talvez gostasse de analisar. Era uma empresária agora; para além do papel de publicitária que tanto amava.
“Eu não sabia nada. Como funcionava um agência, onde poderia dar problema, o que era um fluxo de caixa saudável.”
Não era tão claro como ganhar dinheiro, nem como valorizar seu talento. Aceitar que sua criatividade era uma habilidade profissional levou anos.
Mas a coisa estava rodando e a abundância de clientes parecia apontar um caminho seguro. Pra onde?
Naquele momento, seguindo em frente. Camila não tinha um plano claro de onde queria chegar.
Parando no meio do caminho
O motivo pelo qual Camila encerrou tudo de repente pode ser desdobrado em alguns pontos.
O processo natural de entender, aprender e trabalhar em cima do mais relevante erro da sua carreira* iria requerer pausa, análise, ajustes.
Mas isso foi a linha que cruzou um limite já esticado. Havia uma grande exaustão, carregada anos a fio por pautas intermináveis que ‘apenas’ são o dia-a-dia natural de uma agência.
E a energia que precisa para segurar a onda emocional de ter falhado? Ainda mais quando se achava estar no auge?
Era um peso grande demais para lidar. Como o dinheiro não parecia compensar tanto e a direção não importava muito, abrir mão não foi um passo emocional.
Primeiro a empreendedora parou.
Levou mais de um ano para se recuperar do burnout e do profudo adoecimento subsequente.
Só depois chegou nos aprendizados que conta aqui. Compreender as profundas razões de sua decisão foi um movimento demorado.
Camila em ação, em reunião com clientes. Imagem: acervo pessoal.
Os pontos se conectaram depois. E, infelizmente, não é fácil
Se está caindo dinheiro, estou acertando.
Camila empreendeu desde muito nova e era guiada pelo que hoje entende como “o fácil”. Nunca tinha ficado desempregada, sempre teve trabalho e isso criou a ilusão de que as regras desse grande tabuleiro mercadológico eram simples de manipular.
“Meu problema é que começou muito fácil.
Eu achava que empresa era fazer coisas que eu gostava e que as coisas aconteceriam sozinhas.”
E isso era uma verdade dentro da sua realidade. Os clientes queriam pagar Camila para fazer o que ela gostava e ela foi levando. A coisa funcionava.
Não haviam grandes dívidas ou urgências - somente muito, muito trabalho.
Hoje vê que sabia muito pouco da complexa engrenagem que é tocar um negócio. Sempre focou na entrega, na operação e, porque parecia estar dominado, investiu pouco tempo em se capacitar em outras áreas de gestão.
Se você olhar para o caixa, sempre encontra um indicativo da saúde do negócio. Agência é um organismo que precisa de todas peças no lugar. Primeiro, paga colaboradores e fornecedores e só recebe 60 ou 90 dias depois.
Seu caso era mais próximo de “trocar dinheiro”, num fluxo desencaixado.
“Foram anos de más decisões fianceras e administrativas. Levei tempo para amadurecer e entender que precisava de gestão para além de atender os clientes.”
Movida pela paixão, voltava para o fácil que entendia desde o começo. Nas fases ruins, jamais avaliou outros caminhos. Seguia na mesma direção se esforçando um pouco mais. Chamava isso de resiliência.
“Hoje vejo que balizei sucesso no lugar errado. O fato de ter gerado dinheiro não quer dizer que deu tudo certo. Precisava sobrar mais, muito mais.”
Fluxo de caixa, crescimento sustentável e gestão eficiente não eram aptidões que Camila tinha tempo para desenvolver. Hoje entende que tomava decisões financeiras erradas, mês após outro.
“A demora deste amadurecimento foi por conta deste ‘dar certo’. As coisas estavam acontecendo, eu fui levando.”
Até que, na pausa, decidiu que não trocaria mais a vida por trabalho. A ideia de ser dona de uma agência de publicidade precisava ficar pelo caminho.
Era hora de começar.
Os aprendizados
O que você já fez diferente quando recomeçou?
Ter clareza do quanto de vida estaria a dar disposta a trocar pelo negócio. Você pode amar o trabalho e a empresa; mas precisa negociar com você mesma e com quem está ao redor. Levou anos para a empreendedora entender que a troca não era justa, mesmo tendo total controle e poder de decisão.
O que fez ou faria igual?
Continuaria olhando para o cliente com amor; com um desejo genuíno de ajudar e resolver problemas. Também, focar em capacitação para vendas para além do discurso do produto, auxiliando em em como a pessoa que vende se posiciona.
5 Erros ou conselhos
que daria para você hoje ou para quem quer cometer outras falhas; não as que estão nesta edição:
Ganhar muito dinheiro é diferente de sobrar muito dinheiro. E sobrar dinheiro não significa lucro. A gestão financeira precisa ir muito além de analisar um projeto ou um mês. É uma interminável conta de longo prazo.
Não entender o valor do seu produto. A empreendedora só entendeu que cobrava muito barato pela qualidade da execuxão quando fechou. Além da perda financeira, foi dolorido entender que não valorizava seu talento.
Curadoria de conhecimento é diferente de só consumir conteúdo. Muita informação de qualidade precisa ser digerida e conhecimento tem tempo de maturação. Aplicar pouco filtro pode embaçar decisões estratégicas.
Dimensionar o trabalho é primordial. Não entender o esforço em tempo, conhecimento e valor gerado cria uma lógica rasa que você só vale em horas.
Consulte-se com pessoas multidisciplinares. Quem está longe da dor contribui com um olhar mais limpo, amplo, e pode ser a peça chave para o sucesso de um projeto.
O depois
“Entrego muito mais valor porque hoje sei a dor do dono”
Hoje Camila atua com vendas, focada em SaaS e B2B, e encontrou um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional. Consegue aplicar toda a criatividade e talento na sua nova área de atuação.
Por enquanto, não pensa em empreender novamente. Teve outros ganhos quando voltou ao mercado de trabalho, como poder se divertir um pouco enquanto equilibra todas as responsabilidades profissionais.
Conecte-se com Camila no Linkedin.
Obrigada por contar sua história e inspirar outras empreendedoras (es).
Tem vida pós fracasso, o problema é o processo. Espero que esta edição tenha inspirado um pouco.
Até a próxima história!
(Sigo em busca de novos casos para contar. Me indiquem, principalmente negócios de mulheres e/ou startups de base tecnológica! :) )
Nati.
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🔗 O que andei lendo e que pode inspirar você e seu negócio:
Google informa: porque conteúdo positivo é tendência. ✌🏼
Já que estamos no tema: como usar a raiva ao seu favor. 💥
94% dos empreendedores já sofreram com alguma doença mental. Estudo muito preocupante da Endeavor. (cuidem-se galerinha!) 🤕
Para os criativos: 9 tendências direto do SXSW.💡
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→ Esta história foi 95% escrita por inteligência real, não artificial. :)
*O conteúdo do erro nem é relevante para a história, por isso não dou destaque. Mas por respeito ao leitor e porque sou contra alimentar uma expectativa ou curiosidade, vou resumir aqui. Foi uma campanha que precisava atingir uma meta de conversão e as vendas esperadas não aconteceram (quem nunca viveu isso?!).