Um co-founder que não virou sócio
História de um empreendedor que ajudou a startup a faturar milhões e de uma promessa que não aconteceu.
No. 19 — Agosto, 2024.
O começo
Chris Fedrizzi é empreendedor, especialista em Growth, podcastaer e, recentemente, adicionou escritor à conta. Em 2021, foi chamado para ser co-founder e CMO de uma startup, mas a promessa de virar sócio no ‘papel’, no entanto, não se concretizou. O que esta trajetória nos ensina? Boa leitura!
O empreendedor Chris Fedrizzi. Foto: acervo pessoal.
Quando era tudo verdade
Florianópolis, julho de 2021.
Um jovem ambicioso recebe uma proposta irrecusável: ser co-founder de uma startup, assumindo a cadeira de CMO.
Já se imaginou, aos 23 anos, tornando-se C-Level de um negócio promissor?
Antes de assinar o contrato social, um desafio: entrar sem equity e “se pagar” nos primeiros seis meses. Após o tempo de provação, ainda dobraria o salário. Para quem confia no valor que pode gerar e - sejamos todos honestos aqui; estamos entre amigos - na grana alta que dá para faturar; não há barreiras intransponíveis.
Chris estava certo de que, após esse período, sua história mudaria de patamar. Trabalhar muito nunca foi problema algum, afinal.
“Pegaram no meu ego, na vaidade.
Aceitei o acordo e foram seis meses de loucura.”
A startup em questão chama-se Refera e é como um Uber de manutenções e reforma, operando através de imobiliárias. Um serviço terceirizado resolvendo a dor enorme de um setor que está permanentemente em situação de orçamentos, obras e reparos.
No dia 01, um time de cinco pessoas e zero receita. Um ano depois, 50 colaboradores, +R$ 2 milhões transacionados mensalmente, + R$7 milhões captados e operação em mais de 30 cidades. A máquina de aquisição de leads construída por Chris trouxe mais de 2.000 parceiros especializados.
“De um sonho; uma empresa inexistente, para um negócio rodando com alto faturamento e escalando rapidamente. Lucrativo e com investidores interessados.”
O caixa ia mais do que bem e o impacto do co-fundador era visível no dia a dia.
A coisa voava.
Só que Chris, ao invés de virar oficialmente sócio, saía da empresa. Por que o combinado não se concretizou?
A seguir, o que os bastidores do convite e os aprendizados desta experiência nos ensinam.
De um estudante que já empreendia, para o universo da inovação
Como os pontos se conectam até ser convidado a co-fundar uma startup?
Imagine começar sua jornada ainda no ensino médio. Filho de microempreendedores, Chris cresceu sem muita segurança financeira. Desde cedo, testemunhou a mãe se virando ao consertar hardware e dar aulas de informática e essa exposição o incentivou a buscar sempre mais.
Ainda estudante, vendia pão de mel na escola e essa determinação inicial foi apenas o início de uma série de aventuras e experimentações.
Desde cedo, queria fazer diferente, num mix de rebeldia e teimosia, indo ao contrário das atitudes de seus pares. Com 17 anos, aproveitou uma segunda bolsa de estudos - a primeira foi para aprender inglês - e mudou-se para Taiwan. De um menino de Mato Grosso do Sul para o outro lado do mundo, completamente sozinho.
De volta ao Brasil, em 2015, ganhou novamente uma bolsa - agora para cursar Psicologia, que depois virou Administração, mas o ambiente acadêmico não o desafiava.
Largou tudo para empreender. Surgiu a oportunidade de abrir um food truck com um primo em Florianópolis e deu adeus emprego CLT e à faculdade 100% subsidiada. Se jogava nas oportunidades com "sangue nos olhos" acreditando que elas não se repetiriam.
Em três meses, voltou para a casa da mãe. A tentativa um tanto impulsiva fracassara.
Um pouco perdido, aventurou-se no espaço do Sebrae de Inovação e uma oportunidade de trabalhar em São Paulo apareceu. Era o início de um novo capítulo.
“Aí me encontrei. Foi um período de muita descoberta que chamo de um Discovery da Vida.”
Agora começamos a conectar os pontos.
Nos três anos em que esteve na capital paulista, um dos destaques foi ter atuado ao lado de Aaron Ross, autor de "Receita Previsível" e referência em vendas para startups. Foi o primeiro vendedor da consultoria do autor no Brasil e destacou-se comercializado seus cursos e workshops. Foi nesse período que conheceu e mentorou o futuro CEO da Refera, a startup que mudaria o rumo de sua carreira.
O profissional tinha uma ideia de negócio e queria replicar aquele método do curso em outras imobiliárias. Buscava alguém para montar o produto; focando nas áreas de marketing e vendas.
E faz a tal proposta irrecusável.
Parando no meio do caminho
Quando os resultados são extraordinários, o que influencia uma promessa a não ser cumprida? Na época, Chris não estava esperando uma atitude tão drástica e o baque foi enorme.
“Aconteceu no melhor momento da empresa e da minha relação com a liderança.”
Hoje, é extremamente sóbrio e justo ao analisar os pontos de ruptura e não floreia as duas ópticas que a história pode ser contada.
1. Caso escolhesse ser somente uma vítima das circunstâncias
Janeiro de 2022, um anos após aquela promessa de se efetivar como CMO, virar sócio e tem um salário maior, o negócio já estava relevante; as metas sendo batidas e havia um caminho glorioso pela frente.
A startup tinha recém formado um board de conselheiros e diretores e, talvez, este tenha sido o início do fato dramático. Conversas para renegociar o acordo e reduzir as porcentagens prometidas entraram em curso.
Tudo parecia caminhar bem quando a data para assinar o novo contrato foi marcada. Era questão de dias até a nova papelada estar pronta.
Em uma sexta-feira aparentemente comum, uma notificação no WhatsApp acusa uma mensagem estranha: um PDF gerava mais apreensão que curiosidade. Quando a tela do celular virou uma folha branca, as linhas traziam os termos de sua saída da empresa.
A linguagem burocrática e fria informava que aquele era seu último dia.
“Eu tive que sair naquele instante da empresa que ajudei a construir.
Não sabia nem o que pensar durante o final de semana porque, quando a segunda-feira chegasse, eu não teria mais nada…Mas aquele arquivo ainda foi a pior parte.”
Quando escolhe assumir sua parcela de responsabilidade pelos seus resultados
Ao continuar sua história desta forma, Chris olha em retrospectiva assumindo a responsabilidade de não conseguir reconhecer seus limites.
“Eu era muito imaturo. Não estava preparado para ser CMO de uma empresa de 50 pessoas.”
A falta de preparo pela pouca experiência de mercado e a imaturidade emocional para lidar com pessoas foram os fatores que provocaram grandes desalinhamentos.
Idealista, entrava em conflitos com as lideranças, especialmente o CEO. Hoje vê que grande parte das fricções eram desnecessárias porque colocavam o relacionamento num plano de menor importância.
Outro fator era a comunicação. O empreendedor nem sempre dialogava de forma estruturada; de forma a apresentar argumentos de forma mais racional do que emocional. Na ânsia de se fazer entender, por vezes soava agressivo e gerava atritos que poderiam facilmente serem evitados.
Sabendo o que sabe hoje, a história, mesmo que um tanto indigesta, faz sentido.
Era hora de recomeçar.
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Chris me pediu para reforçar o ponto central: não guarda rancor, perdoou os envolvidos e assumiu 100% de sua parcela de responsabilidade. Deseja o bem de todos da empresa e deste seu passado, diz que vivemos o que precisamos para evoluir.
“A vida trama para o nosso crescimento”, afirma como um mantra.
Os aprendizados
O que você fez igual ao começar um novo negócio?
Atitude empreendedora com alto nível de execução, que se traduz em cultura e em desafiar o status quo. Isso se mantém em todas as iniciativas: disciplina, dedicação e excelência em entregas que constroem estruturas e processos sólidos. Outro ponto é sempre priorizar desenvolver pessoas.
O que faria diferente?
Não abrir mão dos seus valores e exercitar o autoconhecimento. Ser sincero consigo mesmo e manter sua posição de forma firme quando alinhado ao que acredita; inclusive saindo de contextos caso não façam mais sentido.
5 Erros ou conselhos
que daria para você hoje ou para quem quer cometer outras falhas; não as que estão nesta edição:
Não existe acordo falado. O combinado não sai caro e tudo precisa ser assinado. Sem documentação legal, qualquer coisa pode não significar nada.
Leia os sinais antes dos problemas acontecerem. Chris ignorou alguns indicativos de que as circunstâncias poderiam mudar e uma maior atenção crítica poderia trazer resultados diferentes.
Nada é do nada. É preciso assumir as responsabilidades que o impacto das próprias ações causam e aprender com erros para fazer diferente no futuro.
Empreender é um jogo infinito. Não é conquistar algo e achar que cruzou a linha final; nem ter um pouco de sucesso e achar que tudo está ganho. Esta mentalidade cria expectativas irreais.
Ser estratégico é lidar com as limitações. A maturidade e evolução em algumas questões não acontecem do dia para a noite. Sua versão mais jovem e impulsiva queria chegar longe, sem internalizar esta lição que é um pilar fundamental de todo bom profissional.
O depois
“Não se identificar nem pelo sucesso, nem pelo fracasso”
Após a turbulência e a decepção, Chris mergulhou em um processo profundo de autoconhecimento: queria resgatar sua essência e autenticidade. Levou um tempo entendendo que caminho queria seguir, negando convites para co-fundar ou liderar operações em outras empresas.
Atualmente, atua como CMO-as-a-service para financiar seus projetos pessoais na outra parte do tempo. Tem um time com quatro pessoas que desenvolve MVPs para descobrir potencial de escala. Em teste agora está o Só Agenda, um bot de WhatsApp para clínicas de saúde. O foco é encontrar nichos que rendam uma grana passiva no futuro.
Hoje, faz negócios com mais calma e compreende que não existem promessas mágicas, saídas fáceis e nem um cenário de sucesso permanente.
"Você está em uma posição, depois sai… e pode voltar.
Tanto o sucesso quanto o fracasso são transitórios e não acredito que definem alguém.”
Chris também presta um serviço importante ao ecossistema, falando abertamente sobre amadurecimento, terapia, falhas e aprendizados. Lançou o podcast "Design da Vida", focado em desenhar uma existência através do autoconhecimento e há pouco começou uma newsletter homônima
, onde traz reflexões sobre desenvolvimento e comportamento. Encontre-o também no Linkedin.Como meta, busca um dia a dia com mais sentido, perguntando a si mesmo:
"Como construir uma vida da qual eu não queira fugir?"
E por aí, você tem a resposta?
Obrigada pela generosidade em contar sua história e inspirar outros (as) empreendedores (as).
Tem muita vida após o ‘não chegar lá’, o problema é o processo. Espero que esta edição tenha inspirado um pouco.
Até a próxima história!
(Sigo em busca de novos casos para contar. Me indiquem, principalmente negócios de mulheres e/ou startups de base tecnológica! :) )
Nati.
Leia a edição #18 aqui.
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🔗 O que andei lendo e que pode inspirar você e seu negócio:
“Conselhos de investidores para startups: 10 lições da linha de frente”, e-book do Google com insights valiosos que vão de como aplicar IA a montar estratégias para tempos bons e ruins. 🧠
Entrevista com a campeã olímpica que deixou um prestigiado cargo de VC no Silicon Valley para correr atrás dos seus sonhos (em inglês). 🚲
- faz um post-mortem do micro-saas do , abrindo números e aprendizados importantes. 🚪
Ter só o necessário é a nova ostentação? Reflexões sobre subconsumo. Ainda nesta linha, impacto das bets e jogos de azar no orçamento familiar. 🪙
Mulheres empoderam mulheres: Uma lista com 40 mulheres incríveis para acompanhar no Linkedin. ♀
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→ Esta história foi 92% escrita por inteligência real, não artificial. :)
É interessante como falhamos exatamente quando nos sentimos seguros, em especial, quando temos o ego massageado, momento em que baixamos a guarda e nos deixamos enganar ou nos permitimos dar um ou mais passos em falso. Nesses casos, muitas vezes nos excedemos na comunicação, nos arriscamos sem medir as consequências ou ignoramos os sinais do "Rinoceronte Cinza" que já está na nossa frente, correndo em nossa direção. Parabéns, Chris Fedrizzi, pela sua lucidez e humildade ao analisar sua jornada e se reposicionar! Sua coragem ao compartilhar sua história é uma atitude nobre e que desperta oportunidades de aprendizado. Parabéns, Nati Pegoraro, pelo tema das suas partilhas, por essa produção em especial, assim como pela condução das ricas lições e pela profundidade e delicadeza do seu texto!
Hellen Morais - Texttou.com
Obrigado por me receber 😘