🌶️🔥Do Shark Tank ao shutdown: La Pimi
Um sócio lendário, um investimento alto e a primeira marca licenciada para a Chilli Beans.
Últimas histórias:
#34 | Builder.ai: unicórnio de IA 'desaparece' da noite para o dia
#33 | De empreendedora solo à (também) sócia
Tempo de leitura: 9 minutos
No. 35 — Junho, 2025.
🧨 Em breve, a Failwise vai pausar e/ou pivotar.
Já te ajudei de alguma forma? Quer colaborar de algum jeito? Tem alguma ideia para a Failwise? Tenho interesse em ouvir e estou aberta para buscar alternativas do que fazer com este espaço incrível que criei.
(Ainda estou elaborando todas as razões e pretendo compartilhar em breve, depois da última história que vou gravar.)
🤖 Enquanto isso, aproveita o FailBot - o bot da news treinado com todos os cases pra te ajudar a identificar erros evitáveis e aumentar chances de sucesso. É de graça!
Nesta edição:
A história da marca de pimentas que virou parceira da Chilli Beans.
Como Caito Maia entrou no negócio (e por que acreditou tanto na La Pimi).
O impacto real da pandemia: quando o vidro some, o negócio colapsa.
A difícil decisão de parar - e o que é preciso pra desapegar de uma ideia.
5 aprendizados de quem investiu R$1 milhão no negócio próprio (e quase desistiu de empreender).
E claro, pra quem já é de casa: reflexões pra pensar na vida e nos negócios enquanto lê. 🚀
O começo
Eder Fonseca começou em Assis, interior de São Paulo, vendendo sorvete e catando latinhas. Formado em Filosofia e Direito, sempre teve um pé em tecnologia e outro em marketing. Fundou a Penze, uma das primeiras agências de marketing digital do Brasil, depois a Software house Novakio e hoje lidera a Supersign, plataforma de assinatura digital com mais de 10 mil clientes, acelerada pelo Google Cloud.
🌶️ Mas a maior parte da história é sobre a La Pimi, sua marca de molhos de pimenta que teve investimento milionário, foi sensação no Shark Tank e ganhou o Caito Maia da Chilli Beans como sócio.
Boa leitura!
O empreendedor Eder Fonseca. Foto: acervo pessoal.
Como se decide criar uma marca de Pimenta?
Em algum momento, empreender é sair do backstage para criar algo seu, do zero.
É deixar de viver apenas as ideias dos outros e decidir viver a própria - com tudo o que ela exige: coragem, grana e uma aposta determinada no escuro.
Essa é a história de Eder Fonseca.
Após anos liderando agência, prestando serviços e criando campanhas para outros, sentiu que faltava algo. Queria viver um ‘ciclo completo’. Da ideia ao produto final, de ponta a ponta.
O convite surgiu de um amigo que fazia pimentas artesanalmente no interior do estado de São Paulo, em Cândido Mota. Assim, uma parceria nasceu mais pela oportunidade do que de um desejo profundo por molhos picantes.
A ideia fazia sentido: a pimenta é o segundo tempero mais consumido do mundo, e o gosto do brasileiro por sabores fortes começava a despontar.
O cenário econômico de Eder também ajudava. Em 2018, faturou alto e, no ano seguinte, decidiu aportar R$ 1 milhão no novo negócio.
Deu nome, criou marca, construiu fábrica, regularizou processos, buscou fórmulas e fornecedores. A La Pimi queria ser muito mais que um molho de pimenta. Queria virar tradição, não tendência.
E foi.
Produziam sete tipos de molhos e conservas de pimenta, incluindo a mais forte do mundo.
Em poucos meses, a La Pimi estava em 400 pontos de venda, em mais de 100 cidades. Ganhou projeção nacional ao conquistar um sócio de peso no Shark Tank: ninguém menos que Caito Maia. O propósito era tão alinhado que a Chilli Beans, pela primeira vez na história, licenciou sua marca para outro negócio.
Com faturamento batendo meio milhão, e uma base sólida construída, a La Pimi parecia pronta pra escalar.
O que aconteceu para tudo parar pouco tempo depois?
A marca de molhos de pimenta La Pimi encerrou atividades no começo de 2022. Imagem: reprodução Instagram.
Um sócio improvável: Caito Maia
A ida ao Shark Tank não estava nos planos.
Eder já tocava três negócios ao mesmo tempo e, num desses dias corridos, estava em São Paulo para reuniões da software house.
Foi ali, quase por acaso, que conheceu alguém do time de seleção do programa.
A pessoa provou a pimenta, que estava sendo distribuída como brinde, e cravou:
“Isso aqui tem tudo a ver com o Shark Tank.”
Tinha mesmo.
Pouco tempo depois, em outubro de 2019, estavam diante das câmeras.
O episódio tem 15 minutos - mas a negociação real durou quase duas horas. Sem domínio total de valuation e com um pé fora da operação, Eder tentava equilibrar as contas e convencer os sharks de que valia a aposta.
Conseguiu mais do que isso: conquistou um sócio com forte sinergia. Alguém que realmente queria estar ali .
Caito Maia, fundador da Chilli Beans, investiu R$500 mil na La Pimi.
Imagem: divulgação.
A conexão foi instantânea.
A icônica Chilli Beans nasceu da mesma inspiração: pimenta. Caito é um dos maiores colecionadores de molhos do mundo - e viu na La Pimi uma extensão do que acredita. Uma marca com personalidade, ousadia e verdade.
Foi mais do que um investimento, foi escolha. Caito nunca tinha licenciado a marca da Chilli Beans para ninguém e fez isso com a La Pimi.
“A paixão convence pessoas. O que diferencia uma empresa da outra é a capacidade de venda do produto e isso fez toda a diferença pra La Pimi.”
Primeira vez que a marca Chilli Beans foi licenciada, em parceria com a La Pimi. Imagem: reprodução.
O negócio estava pronto. O mundo, não.
O investimento do Shark Tank veio em dezembro de 2019.
Logo em janeiro, começaram as obras de uma nova fábrica: queriam se preparar para o aumento da demanda. Montaram estrutura, compraram insumos, afinaram a operação.
O plano era lançar novos produtos em março de 2020. Mas foi neste ponto que o mundo parou.
Com a pandemia, pimenta virou item supérfluo.
Os pedidos minguaram, os pontos de venda fecharam, o ecommerce não decolava no ritmo esperado.
E o golpe mais duro ainda viria: o vidro - base de toda a operação - desapareceu.
O frasco de vidro, fundamental para um produto de qualidade, custava R$1,50 até então. O novo preço? R$10. Pra colocar em perspectiva: a La Pimi vendia o produto a R$7 para seus parceiros comerciais.
Inviável. E não havia como substituir: conservas exigem vidro (caso você, assim como eu, tenha pensado em plástico). O Brasil quase não produz, importa da China. E a indústria interna priorizou o que dava mais lucro: garrafas de cerveja (de carona com o grande aumento na demanda).
Com o lockdown global, os pequenos ficaram sem acesso já que a única saída seria importar um container inteiro (custo na casa dos milhões).
Aí, quem precisava de vidro pra embalar pimenta… ficou sem.
“Em dois meses, acabou o vidro no Brasil. A cadeia colapsou e quem era pequeno não conseguia competir por insumo.”
Com toda a grana alocada em estoque e estrutura, não havia fôlego.
O preço inviabilizou a operação. O negócio parecia ter evaporado.
Eder ainda tentou resistir por dez meses. Mas sabia que a equação não fechava.
A difícil decisão de encerrar
“Construímos a base do foguete, construímos o foguete, tínhamos colocado na plataforma de lançamento … e quando fomos lançar, veio a pandemia”
Essa foi a sensação.
O mais difícil não foi nem se conformar com as contas. Foi encarar o apego.
A La Pimi tinha mercado, presença regional, um sócio lendário.
Eder via a marca como um negócio promissor e acreditava no potencial, por isso mesmo, custou a aceitar que talvez fosse hora de parar. Passou quase um ano tentando recolocar o negócio de pé.
Até perceber que já não era estratégia - era apego à ideia.
“Quando a gente é inexperiente, muitas vezes se apega à ideia, ao produto e esquece que aquilo é um negócio.
Mas uma hora precisa acordar.”
Foi um dos momentos mais difíceis da sua trajetória.
Do auge à solidão da pandemia. Sozinho em casa, com um filho pequeno, precisando tomar decisões que ninguém gostaria de tomar.
Ali, no silêncio e no cansaço, veio o amadurecimento.
Eder entendeu que empreender exige mais do que garra e um negócio promissor. Exige maturidade emocional de encarar a realidade.
Porque lidar com o sucesso é fácil. Difícil é precisar aceitar o fim de algo em que você apostou tudo.
Era hora de recomeçar.
5 Erros ou aprendizados
e quem já colocou (e perdeu) R$1 milhão em um novo negócio:
Nem todo retorno é garantido - e nem sempre vem no tempo que você espera.
Colocar todo o dinheiro no jogo logo no início pode parecer ousadia, mas sem planejamento financeiro realista, vira risco desnecessário. Empreender é também aprender a preservar fôlego.Cuidado com os conselhos de quem nunca empreendeu.
Na dúvida, ouça quem já passou pelo campo de batalha. Opiniões bem-intencionadas podem atrapalhar mais do que ajudar. Empreendedorismo exige filtros - inclusive nos conselhos.Foco não é luxo. É sobrevivência.
Tentar tocar três negócios ao mesmo tempo não é ambição. É armadilha. Negócio precisa de presença - e presença exige escolha.Esteja perto de quem sabe mais do que você.
Evite o ciclo de sempre ensinar. Esteja em mesas onde você escuta mais do que fala. Crescimento vem do desconforto de reconhecer o que ainda não sabe.Erros não se corrigem com insistência.
Quando o cenário muda, mudar junto é sinal de inteligência - não de desistência. Persistir no erro, por apego ou orgulho, só aumenta a conta (emocional e financeira).
O Depois
“Pensei em desistir do empreendedorismo. Só não voltei para CLT porque tinha uma dívida altíssima e precisava correr atrás.”
O encerramento da La Pimi não foi fácil - mas foi conduzido com respeito.
Eder e o time comunicaram a Caito Maia que, diante da pandemia, dos altos custos e da fase ainda inicial da operação, não seria possível continuar. Caito entendeu. Agradeceu pela parceria e deixou as portas abertas.
“Ele é humilde, gênio, um empreendedor com um coração gigante. Foi uma honra dividir essa jornada com ele.”
Depois da La Pimi, veio um novo capítulo.
O Google convidou Eder para um programa de aceleração no Campus São Paulo - três meses de consultoria para transformar ideias em startups. Era abril de 2014, a segunda edição do programa no mundo.
Assim nasceu a Supersign, uma plataforma de assinatura digital, simples, segura, com plano gratuito e mais de 10.000 clientes. A startup cresce de forma exponencial, já tem mais de 10.000 clientes e virou case do Google Cloud.
O que mudou nesta nova fase? Foco absoluto.
“Aprendi a dizer mais ‘não’ do que ‘sim’.
Só sigo com o que me leva ao próximo passo - o que for distração ou vaidade fica de fora.“Se você é inexperiente, não vai conseguir tocar dois negócios ao mesmo tempo. As coisas são muito difíceis.”
Hoje, entende que os pontos se conectaram - e que todo o aprendizado construiu pontes firmes para atravessar: trabalhar no Google era um sonho e está se realizando de outra forma.
Por fim, também redefine o que é sucesso:
“O sucesso está no caminhar. Chegar é consequência”.
Obrigada pela conversa transparente e por inspirar outros(as) empreendedores(as) com sua trajetória!
Acompahe Eder no Linkedin.
Conheça a Supersign.
Assista ao episódio do Shark Tank aqui.
🔈 Neste episódio, cobrimos:
00:48 - Quem é Eder Fonseca
2:50 - Como nasceu a La Pimi
5:43 - Bastidores de criar uma marca de molhos de pimenta
7:03 - O primeiro milhão (que logo sumiu)
10:00 - Como foi participar do Shark Tank?
14:19 - Como foi ter o Caito da Chilli Beans como sócio?
16:25 - Conselho para quem é apaixonado pelo seu negócio
17:00 - Preparação para escala e pandemia
25:40 - Decisão de encerrar
28:45 - Lidar com o fracasso
31:45 - Erros evitáveis em negócios
37:25 - Como é ser acelerado pela Google Cloud
47:25 - Como usam IA hoje
Referências:
Claude - https://claude.ai
Anthropic - https://www.anthropic.com
ChatGPT (OpenAI) - https://chat.openai.com
Gemini (Google) - https://gemini.google.com
WriteSonic (Sonic AI) - https://writesonic.com
Obrigada por me acompanhar até aqui.
Até breve,
Nati.
Últimas histórias:
#34 | Builder.ai: unicórnio de IA 'desaparece' da noite para o dia
#33 | De empreendedora solo à (também) sócia
⬆️ Receba histórias de quem parou no meio do caminho e as importantes lições aprendidas. ⬆️ Conheça a idealizadora do projeto aqui.
🔗 O que andei lendo e que pode inspirar você e seu negócio:
Já ouviu falar de technostress? Pois é, existe e pode piorar com IA. (em inglês)
A corrida é para redesenhar tudo para agentes de IA. (em inglês) 🏃🏾
Eu conheci esse episódio ano passado e fiquei me questionando os motivos de não ter dado certo. "Foi a Pandemia" parecia muito vago, seu texto ajudou a esclarecer tudo que ocorreu por de trás dessa frase.