O que fundar um Impact Hub nos ensina?
História de uma consolidada iniciativa global aplicada a um contexto local
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Tempo de leitura: 11 minutos
No. 31 — Abril, 2025.
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Agora, toda edição tará um prompt relacionado ao tema (criado e validado por mim) para gerar insights acionáveis ao seu negócio. O de hoje te ajuda a identificar 3 ajustes indispensáveis antes de levar sua ideia para um novo mercado.
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Nesta edição você vai entender:
Como funciona o Impact Hub e o que significa abrir uma unidade do zero.
Os desafios reais de implementar uma iniciativa global em contextos locais.
Lições essenciais sobre propósito x viabilidade financeira.
E claro, como esta humilde escritora de newsletter quer agradar seus variados tipos de leitores: tem vídeo e áudio pra quem é do time "carro e louça", e texto pra quem gosta de descobrir as palavras com calma. 😌
O começo
Empreender é começar com R$600 divididos em seis vezes no cartão e terminar faturando R$5 milhões por ano. É ganhar prêmios em programas de aceleração com negócios pioneiros e trazer uma iniciativa global de inovação para sua cidade.
Mas empreender também é tentar - e parar no meio do caminho.
Essa é a história da Carolina Candeia. Quando conheceu o Impact Hub, em 2017, a ideia conversava profundamente com seu propósito e entrou na sua lista de desejos.
Como trazer o Impact Hub para João Pessoa?, pensou. Logo veio a realidade: não bastava apenas querer: para abrir uma unidade, era preciso receber um convite formal - e a ideia logo pareceu distante.
Vale lembrar: o Impact Hub é uma rede global que conecta empreendedores, organizações e governos em +120 cidades ao redor do mundo, gerando impacto social e ambiental através da inovação.
Cinco anos depois, o ‘impossível’ acontece. Um amigo empreendedor foi convidado para abrir uma unidade no Nordeste e chamou Carolina para ser co-fundadora.
Quando um sonho começa a ganhar forma, faltam adjetivos para a sensação. Mas há símbolos que falam por si. A escolha da sede foi o marco, porque um endereço físico tem esse poder: torna o abstrato palpável.
Carol vivia o auge da construção. Pegou sua lista de contatos, acionou autoridades locais, bateu em portas que antes pareciam trancadas.
“Consegui marcar reuniões com pessoas que, até então, eu nem imaginava alcançar. O poder da marca e da rede do Impact Hub levou a isso.
De repente, estávamos em espaços de decisão e influência.”
Após quase um ano de planejamento e treinamentos intensivos, o primeiro Impact Hub no Nordeste brasileiro foi inaugurado em janeiro de 2024.
O que aconteceu para Carol sair da iniciativa menos de um ano depois?
Carolina Candeia é empreendedora, mentora e especialista em inovação. Foto: acervo pessoal.
Da faculdade de odontologia para a vida empreendedora
Carolina se formou em Odontologia e trabalhou com saúde pública por mais de uma década. Via de perto os diferentes problemas e desafios da área e, em 2011, decidiu empreender com um marketplace de saúde domiciliar. Entendeu que poderia criar mais impacto.
Com um investimento inicial de apenas R$600 parcelados no cartão, o negócio cresceu exponencialmente em poucos anos. No auge, chegou a 180 funcionários e faturamento anual na casa dos R$5 milhões.
E logo veio a segunda iniciativa.
A segunda startup: um wearable de saúde preditiva
Foi desbravando o ecossistema de inovação que Carolina lançou, em 2017, sua segunda startup: a Watchin. Um wearable pensado para a saúde preventiva, capaz de monitorar sinais biométricos dos usuários em tempo real — tudo para atuar de forma preditiva e reduzir custos elevados das operadoras de saúde.
A startup foi selecionada e premiada em importantes programas de aceleração, como o Itaú Mulher Empreendedora, onde Carolina foi a única nordestina entre 30 empreendedoras do país.
Em 2019, encerrou as atividades atropelada por uma combinação de desafios difíceis de contornar: desalinhamento societário, burocracias pesadas do setor de saúde e a alta dos custos de componentes, já que parte da matéria-prima vinha da China.
Assim chegamos na fundação do Impact Hub João Pessoa
2022, cinco anos depois de Carolina descobrir a iniciativa e manter o desejo de um dia atuar como protagonista em uma unidade.
Convite recebido, necessidades mapeadas e time com 4 sócios montado. O processo oficial começou e a preparação exigiu quase um ano inteiro.
O modelo de negócio do Impact Hub se sustenta sobre três pilares fundamentais:
Espaço físico: aluguel de salas e espaços colaborativos, garantindo receita recorrente.
Projetos: criação e venda de projetos sociais, ambientais e econômicos para empresas e governo.
Eventos: workshops, cursos e atividades que fortalecem a comunidade e ajudam a gerar renda adicional.
“O Impact Hub funciona - entre muitas aspas - como uma franquia. Passamos por treinamentos com pessoas do mundo inteiro, aprendendo processos, como estruturar equipes, desenhar modelos de negócio e estratégias comerciais.”
O projeto também exigia investimentos financeiros relevantes: uma taxa de franquia paga em etapas - parte na candidatura, parte após a aprovação. Depois, uma fatia do faturamento mensal direcionada para a rede global. (Carolina não quis abrir os números - eu bem que tentei, hehe.)
Mas nada era tão simples quanto parecia na teoria.
Carolina em ação em um dos eventos do Impact Hub João Pessoa
Quando a realidade muda o percurso
À medida que o Impact Hub João Pessoa ganhava forma, Carolina percebeu que tinha subestimado a complexidade do desafio. Equilibrar impacto social com sustentabilidade financeira era bem mais difícil do que os treinamentos apontavam.
As regras do Impact Hub, fortemente baseadas na realidade europeia, não conversavam bem com o contexto socioeconômico local. Na teoria, era um modelo global replicável. Na prática, as necessidades locais exigiam adaptações que a rede não previa.
“Quando você olha o contexto do Nordeste brasileiro, percebe claramente que o que funciona na Europa não é automaticamente aplicável aqui.
A questão de cobrar pelo espaço físico, por exemplo, acabou conflitando com o propósito de dar acesso justamente aos pequenos empreendedores locais.”
O grande propósito de Carolina, impactar micro e pequenos empreendedores por meio de um acesso democratizado à inovação, entrou em rota de colisão conflitando com as exigências financeiras da operação.
“Tem uma frase ótima do CEO da Range Talk que traduz perfeitamente o que eu queria: entre ganhar dinheiro e fazer a diferença, eu fico com os dois.
O planejamento estratégico não acompanhou a realidade do dia a dia e o caixa não acumulava como deveria. A rede global também não proveu tanto suporte quanto esperado.
Uma fase turbulenta de realinhamento de expectativas levou os sócios a sair do negócio e Carol se viu sozinha na linha de frente. O trabalho, que já era imenso, começou a ficar inviável.
“Eu queria ser uma ferramenta de transformação social e econômica. Mas não consegui fazer isso ser viável financeiramente… foi uma frustração profunda.”
Após enfrentar seu terceiro burnout, e um ano depois de abrir as portas, entendeu que deixar a operação era a única saída viável. Hoje, mantém uma parceria com o Impact Hub Brasília, que sustenta as atividades em João Pessoa.
Era hora de recomeçar.
Os aprendizados
O que você faria igual ao começar um novo negócio?
Começar com um sócio, mantendo olhares múltiplos e complementares. A colaboração fortalece não só o negócio, mas também o crescimento pessoal.
E o que faria diferente?
Alinhar expectativas desde o início; junto com a um plano de saída definido caso as coisas não dêem certo.
5 Erros ou conselhos
para aplicar em sua estratégia (ou sua vida):
Nunca subestime contexto local.
O que funciona em grandes centros não necessariamente se aplica ao seu mercado. Antes de replicar, mergulhe nos desafios e particularidades locais.Alinhe propósito e viabilidade financeira desde o início.
Impacto social sem saúde financeira não sustenta a operação. É preciso que a conta feche para o propósito acontecer.Pense sempre no mês 6, 10 ou 12 - nunca só nos primeiros dias.
Planeje antes de executar, sempre. Metas claras, planejamento estratégico de médio e longo prazo e validação constante evitam que a empolgação inicial vire frustração depois.Mesmo com suporte, prepare-se para ir além.
Nem sempre um grande parceiro pode fornecer o suporte necessário. Antecipe desafio e tenha planos para mitigar riscos.Entenda que desistir também é uma opção válida.
Encerrar um caminho não significa abandonar o propósito. Às vezes, parar é o passo necessário para recomeçar com possibilidades mais sustentáveis.
🔥 Prompt: Diagnóstico de Adaptação para Novos Mercados
Você é especialista em expansão de negócios e adaptação de modelos para novos contextos de mercado. Sua missão é ajudar a identificar ajustes essenciais para que o negócio de [seu negócio] tenha sucesso ao ser levado para um novo público ou localidade, com base nas respostas que fornecerei a seguir.
Aqui estão as informações necessárias:
Breve descrição do seu negócio ou produto: [Descreva seu negócio, produto ou serviço atual. Seja claro sobre o que você entrega e para quem.]
Qual é o mercado atual em que você atua? [Explique onde você opera hoje: público, segmento, região, faturamento atual e desejável e como você atende às necessidades desse mercado.]
Qual mercado ou público-alvo você está considerando explorar? [Descreva o novo mercado ou segmento que deseja alcançar, e o que motiva essa expansão.]
Quais diferenças ou desafios você já percebe entre o mercado atual e o novo? [Liste diferenças culturais, regulatórias, econômicas, concorrenciais ou de comportamento do consumidor.]
Quais estratégias e práticas atuais poderiam não funcionar nesse novo contexto? [Seja honesto sobre processos, comunicação, produto ou preços que podem precisar de revisão.]
Com base nessas respostas, realize o seguinte diagnóstico:
a) Liste os 3 principais pontos que você precisará adaptar ou ajustar antes de entrar no novo mercado.
b) Sugira 3 ações práticas e imediatas para começar a validar e mitigar riscos nessa adaptação.
c) Defina 1 métrica-chave para acompanhar semanalmente a eficácia dessas adaptações.
d) Crie um roteiro de perguntas para conversar com potenciais clientes ou parceiros locais e entender melhor o contexto específico desse novo mercado.
O depois
“Estava mais interessada em fazer a mudança acontecer do que de fato em ganhar dinheiro”
Carolina passou por um processo de convencimento interno, entendendo que não estava desistindo do propósito, mas de um caminho que não se concretizou como esperava.
“Não considero que deu certo. Saio um tanto frustrada e me senti muito solitária nessa jornada.”
Felizmente a maturidade empreendedora traz um benefício essencial:
"Entender que desistir também é uma opção válida, muitas vezes necessária."
Hoje, lidera o Im_barca, uma iniciativa dedicada a ajudar micro e pequenos negócios tradicionais a incorporar inovação nas suas operações. Também é gestora de operações na BeeBusiness, uma escola global de empreendedorismo, e mentora do SEBRAE, onde atua em programas estratégicos.
Carolina reconhece que parte de sua força e inspiração vem de colocar a mão na massa, fazer novos projetos e seguir desbravando desafios. E sempre o fez, mesmo em momentos turbulentos da vida:
“Digo que o caos tem força e energia. Basta saber catalisar, e isso pode virar uma fonte de impulsionamento.”
Acompanhe Carolina no LinkedIn.
Obrigada pela conversa transparente e por inspirar outros(as) empreendedores(as) com sua trajetória.
🔈 Neste episódio, cobrimos:
01:12 - Da Odontologia para a saúde pública e o empreendedorismo
03:00 - O começo nas metodologias de inovação
03:42 - Primeira empresa na área de saúde
05:31 - Auge da Home Care
07:14 - O que faria diferente como empreendedora de primeira viagem
10:20 - Primeira startup: Watchin
12:10 - Auge e aprendizados da Watchin
15:55 - Criação do Impact Hub João Pessoa
23:00 - Os 3 pilares do Impact Hub
24:10 - Expectativa e realidade
27:57 - Investimento para criar o Impact Hub
29:20 - Hora de recomeçar
36:30 - Processo de convencimento pessoal
38:06 - Existe um “e se”?
40:48 - Sobre auges
45:00 - Novos projetos
51:00 - O que faria igual e o que faria diferente
53:14 - Onde encontrar a Carol
→ Sigo em busca de novos casos para contar. Me indiquem, principalmente startups de base tecnológica! :)
Até a próxima,
Nati.
Últimas histórias:
#30 | Ideia boa, mas não vende?
#29 | A Dobra deu aula
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🔗 O que andei lendo e que pode inspirar você e seu negócio:
Um roadmap para fugir da degradação cultural, estudo da ID\TBWA. 💡
Quando é hora de ir embora? Sobre parar e recomeçar, meu texto autoral que Carolina menciona na conversa. 🏃🏼♀️
Pronto, agora o marketing acessa nosso subconsciente. 🤯
Na era da IA, o que realmente importa é o que sempre importou, por
e . 🧭A fórmula das startups bilionárias: por que times enxutos com IA estão vencendo os gigantes (em inglês). 🚀
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→ Esta história foi 75% escrita por inteligência real, não artificial. :)
Nat, histórias sempre muito bem contadas, aprofundando nos detalhes que valem a pena! Sigo lendo e aprendendo